segunda-feira, 11 de maio de 2009

SuperficieReflexiva-textofinal



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TÍTULO DA OBRA – Superfície Reflexiva


NA CAVERNA


VALDO - Me ajuda aqui.


PÓS-CIRÚRGICO: Não ajudo. Você não está seguindo as regras!


VALDO - Venha me ajudar. Você é um pós cirúrgico, tem que me obedecer!


PÓS-CIRÚRGICO - Só obedeço o manual. Se eu fosse você faria a mesma coisa.


VALDO - Não vou seguir manual nenhum. Quero me arriscar...Que peso !


PÓS-CIRÚRGICO– Olha aí, derrubou a caixa... Eu avisei !


VALDO – Você foi o culpado. Não quis me ajudar. Não tenho a força que você tem.


PÓS-CIRÚRGICO– Sigo as regras...Você quer inventar, ser diferente e se dá mal.


VALDO – Chega de papo e me dá o lenço para limpar essa poeira do rosto. Eu ser como você ? Nunca! Só em um certo sentido sou parecido...


PÓS-CIRÚRGICO: Parecido comigo ? De jeito nenhum!


VALDO - É, depois da cirurgia você ficou diferente.. mas eu, mesmo sem cirurgia me sinto preso como você! Essas regras me prendem, me amarram...


PÓS-CIRÚRGICO: Valdo, você deve estar me olhando...


VALDO – Me conta, então dói mesmo quando você olha um rosto ?


PÓS-CIRÚRGICO: Pare de me olhar!


VALDO - Mas não estou olhando. Estou devolvendo o lenço. Posso olhar você de frente, não posso? Claro que posso!


PÓS-CIRÚRGICO– Ai! Tira essas mãos do meu rosto !


VALDO – Não precisa me esmurrar...Dói muito mesmo. Que coisa absurda! Posso ver meu rosto apenas com as mãos...


PÓS-CIRÚRGICO - Chega de falar nesse assunto. Vamos arrumar a bagunça que você provocou.


VALDO – Me conta! Você desrespeitou a Lei e por isso sofreu a cirurgia ?


PÓS-CIRÚRGICO – Não vou contar nada.


VALDO – Então você já viu um rosto de frente, não viu ?


PÓS-CIRÚRGICO – Você é um idiota? Não entende que não quero lembrar disso? É um idiota mesmo! Tanto trabalho para arrolar o material, encaixotar e por sua causa vamos ter que fazer de novo...Não fique aí parado, não vai querer que eu pegue tudo isso sozinho ! Pega aquele rolo dali do chão. Por que só eu tenho de recolher esses objetos? Ainda mais que foi você que fez cair da caixa.


VALDO – Nem um pós cirúrgico quer me contar como é ver um rosto de frente... Ei ! Olha esse rolo...está quase aberto...deixa eu dar uma espiada...


PÓS-CIRÚRGICO– Por que jogou o rolo de novo no chão ? Ainda está aberto, dá para ver que é...Pare de tremer. Parece que levou um choque do rolo ! Larga de meu braço! Ah! É uma imagem....de uma jovem em atitude suspeita...Interessante...olhar assim não me dá dor de cabeça. Mas é melhor você não ver! A Lei não permite !


VALDO – A Lei? A Lei não diz nada sobre olhar rostos dessa forma...Por que não posso olhar?


PÓS-CIRÚRGICO– Você vai ter problemas...olhar esse rosto, esses lábios! Estou avisando...


VALDO – E a sua bunda eu posso olhar? Posso? Por que posso olhar bundas e não posso olhar rostos?


PÓS-CIRÚRGICO - É bom não olhar!


VALDO - Por que? O que você vai fazer? Vai me bater?


PÓS-CIRÚRGICO - Não! Você é um fraco! Vou denunciar você...


VALDO - Ei pare com isso! Calma! Pronto, não estou olhando...Olhe aí , estou enrolando de novo e lá vai de novo para o chão...


PÓS-CIRÚRGICO Vou chamar a supervisora Leda.


VALDO - Mas por que? Vai me acusar? Espera aí, vamos com calma!


PÓS-CIRÚRGICO - Me larga! (sai)


VALDO – Estúpido! Uma olhadinha rápida que mal vai causar ?


(cantando em forma de rap)


meus lábios, posso sentir com as pontas dos meus dedos.


mas eu quero sentir esses lábios...


LEDA – (de fora) ESSE VALDO NÃO SABE SEGUIR INSTRUÇÕES? ONDE ESTÁ ELE ?


VALDO – (cantando em forma de rap)


vejo você depois! deixa enrolar e esconder você


debaixo do macacão. puxo esse zíper e você fica


aqui junto do meu peito, quentinha...


PÓS-CIRÚRGICO– (de fora) ALI NAQUELA ENTRADA À DIREITA.


LEDA – (entrando junto com o Pós - Cirúrgico ) E então, o que foi agora? Por que essa caixa está assim?


VALDO – Derrubamos a caixa......


PÓS-CIRÚRGICO– Ele derrubou...Quis tentar um método novo!


LEDA – Vá buscar uma caixa nova! Você não. (Sai PÓS-CIRÚRGICO)


Você fica aqui e responda mais uma vez...Por que você não segue as instruções? Não sabe que estou ocupada com as escavações?


VALDO - Não sigo porque ninguém me explica por que!


LEDA - Você não tem que saber os motivos! Sempre foi feito assim e continuará sendo !


Vamos, venha me ajudar a conferir!


VALDO - Não precisa conferir! O material já estava todo arrolado, é só encaixotar e lacrar de novo!


LEDA - Aqui sou eu quem dá as ordens! Venha aqui. Vamos conferir os objetos com a listagem.


VALDO - Mas eu apenas derrubei a caixa...


LEDA - Não quer conferir? Será que você está me escondendo alguma coisa?


VALDO - Não Supervisora, é que agora estou muito cansado...deixa eu ir embora ?


LEDA - Tudo bem, mas tem uma condição...


VALDO – Lá vem você me tentar ....


LEDA - Como castigo por não seguir as ordens, venha até aqui nas minhas costa e me dê um abraço bem apertado...


VALDO - Agora não dá! Estou todo empoeirado...


LEDA - O que está acontecendo? Toda hora, até sem motivo, você me quer por perto... você ainda me quer bem perto, não é ? Está bem, então eu abraço você ...


VALDO – Supervisora...mais tarde....


LEDA – Ai! Mais cuidado ! Você quase me machucou...Está bem. Eu cuido da conferência.


VALDO - Não precisa conferir, já disse. Mas se você quiser eu faço isso depois !


LEDA - Não queria descansar? Pode ir. Mas depois conversamos...Vai ! E procure descansar bastante...(VALDO sai)


PÓS-CIRÚRGICO – ( entrando ) esta é a única que encontrei.


LEDA - Essa caixa está ótima. Traga aqui. Vamos, anda logo. Temos muito trabalho ainda. Vamos conferir todos os objetos com a relação mais uma vez!


PÓS-CIRÚRGICO – Deixa que eu faço. Tem uns jornalistas vindo aí...


LEDA – Mas que hora mais imprópria!


REPORTER DOIS– ( entrando ) Supervisora Leda ! Como vão os achados históricos ?


LEDA- Perderam tempo vindo. Ninguém vai filmar os achados !


REPORTER UM – ( entrando com o Operador ) Operador, comece então a gravar a Supervisora falando...


LEDA – Vira essa câmara para lá! Se gravar meu rosto, sabe o que vai acontecer com você, senhor Operador ?


REPORTER DOIS - Calma Supervisora. O Operador foca a gente de costas. Pode confiar!


LEDA - Sou desconfiada sempre! Por mim não haveria mais televisão. Só transmissão por rádio!


REPORTER DOIS- O que a senhora tem contra a TV? Ninguém vai ver nossos rostos...


LEDA - E como vou ter certeza disso? Se olho para a objetiva....o que acontece ?.


REPORTER UM - Seria uma tragédia! Posso até ver a manchete: ( cantando em forma de rap )


a guardiã da lei vê- se refletida na objetiva...na objetiva vê-se da lei a guardiã...


REPORTER DOIS- ( cantando em forma de rap )


na superfície reflexiva da objetiva...


REPORTER UM - ( cantando em forma de rap )


a guardiã na superfície reflexiva refletida ...refletida a guardiã...


LEDA – NÃO BRINQUEM COMIGO! Mais respeito! E quer saber de uma coisa ? Se eu tivesse escrito a lei faria constar a eliminação de todas as superfícies reflexivas.


REPORTER UM – Se a Supervisora tivesse escrito a lei estaria muito velha...


REPORTER DOIS- Mas a lei já eliminou tudo que refletisse rostos das pessoas !


LEDA - E esse olhos aí no seu rosto ? E os dos animais? O olho dessa maldita câmara ? E as águas paradas...


REPORTER UM – Desculpe Supervisora, mas a senhora não deixa as águas ficarem paradas


REPORTER DOIS– Só faltava a senhora mandar arrancar os olhos dos animais, os nossos...EPA !


REPORTER UM – Será que alguém vai querer ver seu rosto, Supervisora ?


LEDA - E por que você olha para baixo quando eu falo ?.


REPORTER UM - Para não vê-la, mesmo por acaso...


REPORTER DOIS- E eu olho para o alto quando falo...assim também não vejo.


REPORTER UM - Mas e seus subordinados ?


LEDA – O que tem ? Certamente olham para baixo quando eu falo e para o alto quando eles falam...Por que essa pergunta idiota ?


REPORTER UM - Não ia perguntar isso... Essa conversa cansa a gente...Sabe, eu ia perguntar se eles podem nos mostrar esses objetos aí no chão ...


LEDA – Não podem ! Eles apenas manuseiam, sem fazer perguntas. Escutem bem! Não sou a Supervisora? A guardiã da Lei ? Então faço tudo de acordo com as regras. Meus subordinados não se atrevem a perguntar e falar sobre o que encontramos...eles sabem as conseqüências !


REPORTER DOIS– Você pode focalizar aqui no chão, perto da caixa ?


LEDA – Ei pode ir saindo daí já ! E você pode desmontar esse tripé porque não vai ser possível mostrar os objetos! Além de tudo vocês são surdos..


REPORTER DOIS– Mas Supervisora precisamos mostrar !


LEDA – Saia de perto dessa caixa! Tira essa câmara dai, já falei !


REPORTER UM – Mas que mal tem mostrar essa coisa aqui ?


LEDA – Essa coisa tem que ficar aqui, dentro desta caixa ! Está vendo ? O que é isto ?


REPORTER UM – Um chicote, eu creio...


LEDA – Pois é, um chicote! Não é este objeto que é perigosos mas os fatos que podem ser relembrados por causa dele. E fatos vergonhosos. Com certeza, todos nós queremos esquecer...


REPORTER UM – Um chicote, queremos mesmo esquecer...


REPORTER DOIS– Explica melhor. Afinal o que são esses objetos ?


LEDA – São coisas usados pelos pioneiros.


REPORTER UM – Os homens e mulheres selvagens ?


LEDA – Os que vieram do planeta Terra. Não sabemos por que deixaram essas coisas aqui nesta caverna.


REPORTER DOIS- Mas isso foi a mais de 200 anos!


REPORTER UM - Como pode ter certeza da data? Eles parecem bem conservados..


LEDA – Pare de mexer neles. Vamos jogue dentro da caixa. Eles estão conservados porque aqui na caverna é muito frio.


REPORTER DOIS– Mesmo assim não parecem tão velhos..


LEDA – Pois fique sabendo que nós retiramos os objetos da caverna e levamos ao laboratório do Sábio Mutt e fizemos os testes para confirmar as datas.


PÓS-CIRÚRGICO – Supervisora Leda, preciso falar com a Senhora.


LEDA – Não me interrompa! Não percebe que estou falando com os jornalistas ?


REPORTER DOIS– E depois trouxeram novamente os objetos para a caverna, creio...


LEDA - Em caixas especiais para transporte para a Terra.


REPORTER DOIS- Para a Terra? Não poderia ficar aqui mesmo? Essa caixa está quebrada...


LEDA - De forma alguma. È muita responsabilidade. E saia já de perto dessa caixa! Não vê que está quebrada ?


REPORTER UM – Pois é, está quebrada mesmo...Operador, me dê isso. Olhe que interessante. ( cantando em forma de rap )


O mal Não é o entra pelos olhos mas o que sai pela boca! “


Se o que sai pela boca é o mal o que entra pelos olhos é...


LEDA – Pare com essa cantoria !


REPORTER UM - Autor, deixa eu ver, não tem...Aqui está o título ! “ A Bíblia no Ano 2010...


LEDA – Me dá esse livro! É por causa do que você leu que não se pode exibir essas peças, nem comentar sobre elas. Não se pode TOCAR nelas ! TOCAR, ENTENDEU ? Pronto! Dentro da caixa é mais seguro !


PÓS-CIRÚRGICO – Supervisora Leda, preciso falar! È urgente !


LEDA – Mas que falta de educação ! Isso a cirurgia não cura !


REPORTER DOIS– Aqui a gente não consegue nada. Vamos , desarme o tripé. É melhor procurar o Sábio Mutt . Vamos ver se descobrimos esse segredo...


LEDA – Nada de entrevistas ! Quanto a esse segredo não estamos preparados para enfrentar o que eles mostram...Saiam daqui, tenho que trabalhar.


REPORTER DOIS- Francamente Supervisora Leda, não sei porque tanto mistério. O que os pioneiros sabiam que não sabemos agora?


REPORTER UM - Nós somos hoje muito mais evoluídos do que eles!


LEDA - Como podem se esquecer ? Sabe o que é isto ?


REPORTER DOIS– É um texto. É o original com a Lei 8 mil, não é isso ?


LEDA – Exatamente o original, encontrado junto com os objetos!


REPORTER DOIS– O que tem a lei a ver com esses objetos?


REPORTER UM – Veja, Operador, aqui embaixo!. A Lei foi assinada em 2020...não tem duzentos anos ainda...Os objetos nessas caixas são mais velhos que a lei! É isso?


REPORTER DOIS- Então mostram algo que a Lei 8 mil proibiu depois ? Algo que não podemos...


LEDA –Que não podemos ver ! Alguns deles são imagens de pioneiros...


REPORTER UM – Vai ver eram mais feios que nós...


LEDA – São imagens que os mostram de frente... Pare de tentar filmar aí dentro da caixa!


REPORTER DOIS- De frente! ? O rosto? Os olhos? A boca?


LEDA - Exatamente o que é proibido! Entenderam agora por que precisa ir para a Terra?


REPORTER DOIS- Mas nos já deixamos de praticar esses hábitos!


LEDA – Como comunicadores vocês são péssimos. Não conhecem a alma humana? Não sabem como somos fracos ? E se a visão dessas imagens despertar a vontade das pessoas se olharem ?


REPORTER UM - Vai precisar de muito mais cirurgias.


REPORTER DOIS– As informações vão vazar; pois para poder catalogar alguém já viu...


REPORTER UM - O sábio Mutt....e, quem sabe, a adorável sobrinha dele...que, dizem, “trabalha” com ele...


VERA - O Sábio Mutt é velho e cego! A sobrinha é uma cientista ! Ela tem ética profissional !


PÓS-CIRÚRGICO – Supervisora Vera, parece que está faltando o rolo.


LEDA – Por que está cochichando ? Vamos, fale alto !


PÓS-CIRÚRGICO – FALTA O ROLO !


LEDA – O rolo ? Fale baixo, estúpido !


PÓS-CIRÚRGICO – Mas a senhora disse para falar alto !


REPORTER UM – Diga, amigo, que rolo é esse que falta...


LEDA – Silêncio! A boca não solta palavras que dão arrependimento depois!


PÓS-CIRÚRGICO – Não falei rolo...e sim BOLO ! B - O - L - O !


LEDA – Desculpem senhores, mas precisam ir. Estou com pressa. Tenho um probleminha para resolver.


REPORTER UM – Probleminha sério ? O do bolo, talvez ?


REPORTER DOIS- Então, Supervisora, para encerrarmos...


LEDA – Encerrarmos o que ? Não vai haver entrevista nenhuma! E por segurança, Operador, me dá essa câmara aqui. Vou pisar nela!


OPERADOR - Não disso, Supervisora! Também tenho ética. E preciso dela para trabalhar! Que medo de uma simples objetiva !


LEDA - Quem tem medo? . Quem deve ter medo é você ! Se me viu através da objetiva eu o denuncio e aí vem a cirurgia.


OPERADOR – Calma, Supervisora ! A câmara não gravou você! E sabe por que? Qualquer telespectador poderia ver sua imagem e me acusar! Não é assim a Lei ? Está aqui neste texto. Alguém que é olhado denuncia quem olhou !


REPORTER UM – Meus caros, melhor ir andando, senão vamos ser culpados pelo ...


B –O – L - O que desapareceu...


LEDA – Um momento, Senhores. Pensando melhor...tenho uma surpresa para vocês ! Esperem aqui. E você me dê o texto da Lei (sai).


OPERADOR – Que susto. Pensei que fosse arrancar a câmara de mim. Vocês me desculpem mas é melhor eu ir andando...


REPORTER DOIS– Por que ? Vai perder a surpresa. E se for alguma coisa para você gravar?


OPERADOR – Mas pode ser também que ela queira ainda pisar na minha câmara. Não posso correr esse risco.


REPORTER UM – Depois nós vamos entrevistar o sábio Mutt. Espere por nós lá.


OPERADOR – Pode ter certeza que estarei lá bem antes dos Senhores (sai)


REPORTER UM – Amigo Pós Cirúrgico! Que rolo é esse que falta ? Quero dizer, bolo ?


PÓS-CIRÚRGICO – Desculpe Senhor. Apenas a Supervisora pode falar sobre o rolo, quer dizer o bolo.


REPORTER DOIS– Será que ela vai dar uma festa para comemorar a os achados, com bolo e tudo ? Mas assim todo mundo vai ficar sabendo !


PÓS-CIRÚRGICO – Não posso falar nada sobre a festa sem ordens da Supervisora!


REPORTER DOIS– Mas que mal pode fazer falar de um bolo e de uma festa ?


PÓS-CIRÚRGICO – Senhor, posso ser punido se falar mais sobre esse assunto.


REPORTER UM – Você já foi punido com a cirurgia. Nada mais pode lhe acontecer. Vamos lá conte para a gente ...


LEDA – ( entra junto com a OFICIAL ) – Aqui está a minha surpresa para vocês ! a Oficial Sônia !


REPORTER UM – Sem dúvida é uma bela surpresa !


PÓS-CIRÚRGICO – Supervisora, a terceira pessoa não esta aqui.


REPORTER DOIS– Precisou sair para outro compromisso. Prazer em conhecê-la.


REPORTER UM – Suas costas são lindas pessoalmente, Oficial Sônia. Muito prazer !


OFICIAL – O meu prazer será muito maior, senhores jornalistas.


LEDA – Será com o maior prazer que a Sônia irá detê-los !


REPORTER UM – Nos deter ? Mas estamos apenas elogiando a beleza da Oficial ! Não é motivo para a detenção!


OFICIAL – Vocês viram os achados e poderão falar sobre eles! Vamos, de costas e mãos na nuca !


REPORTER DOIS– (cantando em forma de rap)


Mas precisamos falar desses objetos! Por isso somos jornalistas. É melhor


não nos determos senão iremos denunciá-los !


REPORTER UM – (cantando em forma de rap)


Nós temos as imagens em vídeo. Não adianta nos deter!


As imagens a verdade vão refletir !


LEDA – Vocês não têm a mínima chance...


PÓS-CIRÚRGICO – Supervisora ! É verdade, o rapaz levou a câmara embora.


OFICIAL – Não se preocupe com o rapaz da câmara, Supervisora. Depois de uma conversa com estes dois vou saber onde ele e a câmara estão. Vamos andando!


REPORTER UM – Ai ! (cantando em forma de rap)


Já lhe falei que a beleza dói, colega?


Mas, colega, a dor não é uma beleza !


Ai. Ai ! Calma. Estamos saindo! ( saem )


LEDA – Vamos, conte o que houve com o bolo


PÓS-CIRÚRGICO – O B – O – L – O ? Os jornalistas pensaram que ia haver uma festa...


LEDA - O ROLO, IMBECIL !.Se for aquele com o rosto da pioneira vai ser uma grande encrenca !


PÓS-CIRÚRGICO – Ele mesmo, Supervisora. Mas não foi a mesma coisa que aconteceu com a pequena superfície reflexiva.


LEDA – Então o rolo desapareceu quando você estava aqui ?


PÓS-CIRÚRGICO – O Valdo também estava. Já a pequena superfície desapareceu antes de chegar aqui. Foi diferente...


LEDA – Ah ! o Valdo. Estava esquecendo meu compromisso com ele. E agora esse compromisso ficou mais sério ! ( sai )


EM OUTRO CANTO DA CAVERNA COMO SE FOSSE O QUARTO DE VALDO

VALDO – (cantando em forma de rap)


Dormi só esse pouquinho ? Ou então o relógio parou !


Ainda por cima demorei a pegar no sono. Ver o rolo


me deixou muito tenso.


Mas, deixa eu ver mais uma vez a imagem.


Nem consigo descansar mesmo.


Só penso nela. Acho que estou apaixonado pela imagem.


Aqui está mais claro. Segurando assim posso


acariciar seus lábios


como eu faço com os meus. O que tem aqui atrás...


Uma data ...2012, 2012. ... Espera, tem uns escritos...


pode ser que expliquem por que esses lábios estão abertos...


o que será que significava isso duzentos anos atrás?


Os dentes aparecendo, brancos...são muito brancos.


Não entendo esses escritos. Ei, moça, o que significa isso?


Sou um idiota! Como posso falar com uma imagem


e como uma imagem vai falar comigo !


Vem gente ...apagar a luz, rápido! Deitar, ficar quieto...


LEDA – VALDO, ESTÁ ESCURO AQUI. VAMOS LOGO, TENHO POUCO TEMPO! POR QUE DEMORA TANTO ?


VALDO – PARE DE GRITAR, LEDA ! VAI ASSUSTAR TODO MUNDO!


e você fica enroladinha aí embaixo da cama, viu? JÁ ESTOU ACENDENDO A LUZ! Seja bem vinda, minha Supervisora...


LEDA – Esse macacão aperta demais. Não via a hora de tirar e fica assim como você . Vamos, vamos logo, VALDO. Preciso me relaxar com sexo para me concentrar nas encrencas dos achados históricos desaparecidos.


VALDO – Tem achado perdido, Supervisora ?


LEDA – Achado perdido ! Só você para falar assim...Pronto estou nua como você gosta. Veja como minhas costas são macias....Ai, que mãos suaves são as suas...Mas antes vamos conversar sobre os achados perdidos. Tem um que desapareceu da caixa. Sabe ? Aquela que você quebrou.


VALDO – Esqueça esses malditos objetos. Vamos logo senão meu tesão diminui...


LEDA – Diminui? Por que isso agora? Está tendo outro relacionamento ?


VALDO - Não. Não é isso. É esse negócio de cumprir ordens...


LEDA - VALDO, você está me escondendo alguma coisa....


VALDO - Que é isso, Leda, eu nunca escondo nada de você! NADA !


LEDA – Isso vamos descobrir logo, seu desastrado. Mas, antes, como no sexo pelo menos você é competente...


VALDO – Sabe como posso ser ainda mais competente? Se puder olhar você de frente, Leda. Duvida ? Então, posso ?


LEDA – Está louco! O que fazemos já é proibido, imagine dessa forma. Você me irrita, sabe?


VALDO - Mas vou fazer assim com quem então?


LEDA - Vá fazer com quem quiser...faça com sua amiga professora...


VALDO - Está com ciúme da Professora Vera ?


LEDA - Ciúme? A hora que eu quero eu assobio e você vem correndo! CHEGA DE FALAR ! Senão acaba o meu tesão e ai de você se isso acontecer...


VALDO - Quer saber de uma coisa? Vou olhar seu rosto agora!


LEDA - Nada disso, está ficando louco?


VALDO - Se você não me explicar por que, hoje não tem sexo! Certo?


LEDA - Não tem sexo? Que conversa é essa. E isso aqui ? Se não é tesão, o que é ? Só se for objeto roubado...que você está escondendo !


VALDO – Isto não é roubado ! É meu mesmo !


LEDA – Percebe ? Você não tem escolha, seu corpo me quer...Mas se você não quiser, tudo bem....vamos falar sobre os achados perdidos!


VALDO – Agora não, Leda. Posso Apagar a luz ? No escuro é melhor.


LEDA – Apague logo!


(cantando em forma de rap)


Agora venha aqui, muito bom...agora devagar.


Vamos. Assim... assim agora mais rápido...


Quem sabe qualquer hora eu deixo você


ver meus lábios ..quem sabe?


VALDO - (cantando em forma de rap)


Deixa mesmo? Faço qualquer coisa!


O que você quiser... Deixa, vai! Agora!


LEDA – (cantando em forma de rap)


Claro que não, idiota! Esqueceu como a Lei


pune os humanos? Agora quem está punindo você


sou eu...e aqui...eu sou...a lei! A LEI !


Ai, isso sempre me deixa tonta ... tonta...


VALDO – (cantando em forma de rap)


Você é a Lei , a Lei mais gostosa que conheço...


você é a Lei, a Lei!!! A maldita Lei


que não compreendo! Mas seus lábios,


queria seus lábios...Também fico tonto


mas também muito cansado, deixa eu


descansar...depois posso ao menos


tocar seus lábios com meus dedos ? posso ?...


tocar seus lábios com meus dedos ? posso ?...


tocar seus lábios com meus dedos ? posso ?...


LEDA – (cantando em forma de rap)


Tocar meus lábios ! Pode ... Pode sim...


Mas por que não toca neles então, cretino ?


Ah! Dormiu...como esses machos são uns fracos...eu queria mais...Onde foi parar o macacão ?....Preciso ascender a luz. Aqui está. Vamos enfiar esse macacão de novo.. Ei o que é isso embaixo da cama ? Aqui está o rolo! O rolo com a imagem! Não vou precisar torturar você , Valdo ! Será que você está querendo sexo com essa imagem ?


(cantando em forma de rap)


Esses dentes, esses lábios atraem meus dedos...


Mas sou mais forte que você


e não vou ficar olhando você, sua imagem lasciva.


Ah! esse Valdo vai se ver comigo! Vai sentir o que é a Lei!


Mas e a superfície reflexiva? Onde está?


VALDO – (cantando em forma de rap)


Você é a Lei , a Lei mais gostosa que conheço...


você é a Lei, a Lei!!! A maldita Lei


LEDA – Já está acordando ? Preciso voltar com a Oficial Sônia para resolver isso. A prova vai ficar bem quardada aqui embaixo da cama. ( LEDA sai )


NO OUTRO LADO DA CAVERNA A SALA DE AULA

VALDO - Professora Vera, por favor, pare de escrever. Precisamos conversar.


VERA - Quando você era meu aluno não me procurava tanto como agora. Queria resolver tudo sozinho! Está bem, sente-se aí atrás de minha mesa.


VALDO – Preciso de sua ajuda.. Estou em uma encrenca danada!


VERA – Então conta. Você já me interrompeu mesmo...Por que está me mostrando esse rolo ?


VALDO - Esse rolo é a encrenca! Estava arrolado nos achados da caverna...


VERA - Eu li a respeito. Os achados do século 21. E porque você está com ele ?


VALDO - Não resisti e levei comigo...


VERA - Isso é grave, Valdo! E agora como vai ser? Espera deixa eu fechar a porta. Por que você foi fazer isso ? Você continua uma criança, não amadurece !


VALDO - Mas é uma imagem de uma jovem...


VERA - E daí, o que tem isso? Espera mais um pouco, deixa eu falar com a criançada aqui pela janela. MENINOS, MENINAS , CHEGA DE BARULHO! NÃO CONSIGO NEM CONVERSAR! VAMOS LÁ, ESTENDAM AS MÃOS NOS OMBROS DOS COLEGAS! VAMOS LOGO! BRINQUEM DE TREM, MÁQUINA VAI CANTANDO, VAGÕES VÃO REPETINDO, VAMOS LÁ, MÁQUINA –


“QUEIXO PARA CIMA, VOCÊ FALA “,


( vozes de crianças cantando lá fora ) – QUEIXO PARA CIMA, VOCÊ FALA!


VERA – AGORA OS VAGÕES –


QUEIXO PARA BAIXO, EU ESCUTO “!


( vozes de crianças cantando lá fora ) – QUEIXO PARA BAIXO, EU ESCUTO!


VERA – ISSO MESMO CRIANÇAS! VAMOS CONTIUEM ! MAS SEM BAGUNÇA, EM ORDEM !


( vozes de crianças cantando lá fora ) – QUEIXO PARA CIMA, VOCÊ FALA!


QUEIXO PARA BAIXO, EU ESCUTO


( vozes de crianças cantando lá fora ) – QUEIXO PARA CIMA, VOCÊ FALA!


QUEIXO PARA BAIXO, EU ESCUTO


( vozes de crianças cantando lá fora ) – QUEIXO PARA CIMA, VOCÊ FALA!


QUEIXO PARA BAIXO, EU ESCUTO


( vozes de crianças cantando lá fora ) – QUEIXO PARA CIMA, VOCÊ FALA!


QUEIXO PARA BAIXO, EU ESCUTO


VALDO – Professora, esta é uma imagem de uma jovem com os lábios entreabertos.


tos, os dentes aparecendo...


VERA - Os lábios...Então é uma imagem do rosto dela! Ai, Valdo, como você olhou o rosto dela? Você sabe que isso é pior do que roubar? È muito mais grave!


VALDO - Olhe você mesma, Professora. Veja e me explique o que significa! Você é professora, entende das coisas!


VERA - Não, não vou olhar ! Não quero ver rosto nenhum!


VALDO - Por favor, Professora, não agüento mais! Preciso saber o por que! Minha cabeça está cheia de perguntas sem resposta. É um tormento....


VERA - Não vou ver e pronto! Este rolo fica aqui na janela até encontrarmos uma forma de devolver.


VALDO - Mas Professora por que devolver? Sabe de uma coisa ? Quantas vezes, sentado ali na sala de aula, olhando as nucas dos meus colegas, eu sentia o seu olhar atrás de nós, na minha própria nuca, como se fosse uma faca, abrindo meu cérebro, uma chama queimando, uma luz...


VERA - Para com isso! Eu não podia olhar os rostos de vocês. Você sabe disso! Tem a lei! Você pensa que eu não sofria também? Como eu poderia saber se vocês estavam entendendo sem olhar o rostinho de cada um? Mas eu não podia, entende?


VALDO - Por que não podia? Por que ninguém de nós pode? Por que a moça da imagem no século 21 podia e nós não? Por que você não pode agora?


VERA - Agora? Como agora?


VALDO – É isso mesmo, agora !


VERA - O que você quer dizer com isso? Pare de me abraçar ! Chega dessas idéias malucas! Por que fui ser a sua geratriz !


VALDO – Você foi minha geratriz ? Minha geratriz ! Ai, ai, ai!


VERA – Valdo, você está chorando, sinto suas lágrimas, estão me molhando, que sentimentos filiais lindos !




VALDO – Não é por sentimentos filiais não !


VERA – Então por que é ?


VALDO – Porque você está pisando no meu pé ! ai, ai...


VERA – Desculpe, foi sem querer. Também você fica me agarrando...Me larga!


VALDO – Não largo não. E sabe por que ? Se você foi minha geratriz é mais um motivo para me ajudar! Veja! Não é difícil! Estou virando seu rosto para mim...Ai ! Não precisava bater tão forte...


VERA - Para com isso! Me larga! Por que fui àquele banco de esperma buscar você! Ah! E esses alunos, voltaram a gritar! Veja, Valdo, veja. O rolo !


VALDO - As crianças, as crianças! Elas pegaram o rolo !


VERA – ( saindo ) CRIANÇAS ! PAREM! ESPEREM QUE ESTOU INDO!


POR QUE ESTÃO FAZENDO ISSO ?


( de fora )


VAMOS JÁ PARAR COM ESSA BRINCADEIRA ESTÚPIDA !


NÃO ESTRAGUEM ESSE ROLO !


VALDO - O que eu fiz? Idiota, o que você fez? As crianças estão com o rolo! MINHA MATRIZ , TIRA DELAS! ANDA LOGO! ELAS ESTÃO OLHANDO A IMAGEM! AS CRIANÇAS ESTÃO SE OLHANDO! PROFESSORA VERA, NÃO PERMITA ISSO!


VERA - (voz vindo de fora) PAREM COM ISSO! ME ENTREGUEM O ROLO! VAMOS! ME DÊ LOGO ISSO! PAREM DE SE OLHAR! VAMOS UM OLHANDO A NUCA DO OUTRO! ME DÁ ISSO, MENINO!


VALDO - NÃO SE OLHEM CRIANÇAS! OLHA A LEI! O CASTIGO! NÃO SE OLHEM! ( cantando em forma de rap)


As crianças estão vendo os rostos um do outro.


Estão abrindo a boca, um para o outro,


mostrando os dentes! Elas parecem contentes


em seu olhar! Estão copiando a imagem !


VERA – ( voz de fora ) PAREM! PAREM COM ISSO! VOCES ESTÃO RASGANDO A IMAGEM! VAMOS! PAREM DE SE OLHAR! NÃO PODEM FAZER ISSO!


VALDO - O que eu fiz? As crianças serão punidas! Mas por que elas insistem em se olhar?


VERA – (entrando ) Valdo, idiota! veja o que você fez com as crianças. Elas estão lá agora desrespeitando a le1! Se olhando! seu canalha! Aqui está o pedaço que sobrou do rolo !


VALDO – Vera. Vera, você está me olhando! Mas olhe as crianças....


VERA – Estou ficando tonta...tonta...Agora não adianta mais nada! Seremos todos punidos!


VALDO - As crianças estão se olhando e estão gostando, GOSTANDO! VEJA!


VERA - Não! Não quero olhar! Tanto tempo ensinando a não fazer isso! Você destruiu tudo em um segundo, Canalha! Veja o caos que você está criando! Ai, estou tão cansada...me apoie meu infeliz...vamos esquecer tudo isso..


VALDO – Matriz, minha matriz, não posso parar agora! Preciso descobrir mais! Não adianta parar agora, tentar esquecer que isso tudo aconteceu!


VERA – Então saia de perto de mim! Tenho nojo de você ! Como teve coragem de fazer isso?


VALDO - Me ajude! Me indique... Quem sabe alguma coisa?


VERA - Nunca!, NUNCA MAIS ME PROCURE! Como você ousa pensar que vou ajudar? AJUDAR VOCE A DESTRUIR MAIS PESSOAS? Esconde esse pedaço do rolo que sobrou.


VALDO – Por que esconder ?


VERA – Vem vindo gente , vamos , anda logo com isso!


LEDA – ( entrando com o Oficial) Valdo, o que você está fazendo aqui? Que barulho é esse? Professora Vera, o que está acontecendo com seus alunos? Essa gritaria...Oficial , vá lá fora e veja o que está acontecendo!


OFICIAL – ( de fora ) SUPERVISORA, VÁ ATÉ A JANELA RÁPIDO! RÁPIDO!


LEDA - O QUE É ISSO? AS CRIANÇAS ESTÃO SE OLHANDO! OFICIAL , CUIDE DISSO JÁ!


VERA - Eu posso explicar, por favor, supervisora, tenha calma!


LEDA - Calma, como posso ter calma? Você vai ter que explicar os seus atos, Professora! Você será punida!


VALDO - Ela não teve culpa. Eu fui responsável, Supervisora!


LEDA - Você também será punido! Sem dúvida! Eu vim aqui por causa de você! E o que descubro? Esse caos todo que você deve estar provocando ! E com a sua ajuda, Professora!


VALDO - Foi por causa de uma imagem....


LEDA - Eu sei muito bem que imagem é essa! Você pensou que ia me enganar? Roubou a imagem, não é? De uma jovem, do rosto dela, não é? Imbecil! E a superfície reflexiva, onde está? FALE!


VALDO - Perdoa, Supervisora, perdoa, não sei nada de superfície mas o rolo eu ia devolver....


VERA – VALDO ! NADA DISSO ! Depois de tudo o que você já fez...


VALDO - Perdoa, vai, eu ia mas agora não posso mais devolver...


LEDA – Não pode devolver por que ?


VALDO – As crianças rasgaram a imagem. Não sobrou nada....


LEDA – Professora, como você deixou isso acontecer! Professora! Você está olhando o rosto dele! Pare!


VERA - Não se humilhe, Valdo, vá em frente! Vá descobrir o que a sua curiosidade....


LEDA - (afastando ela dele) PARE COM ISSO ! VERA! EU ORDENO!


VERA - Anda logo, vá atrás da pessoa mais velha que encontrar! FUJA !


OFICIAL - (entrando) Supervisora! O que está acontecendo?


LEDA – Segura ele, rápido!


OFICIAL - Tentando fugir, mas não adianta! Pronto Supervisora, este não escapa!


VERA – LARGUE DE MIM, SUA BRUTA E VOCE SONIA LARGUE DO MEU FILHO! VAMOS! OLHE PARA MIM! DE FRENTE! DO QUE NÓS TODOS TEMOS TANTO MEDO?


OFICIAL – PARE DE ME OLHAR ! SUPERVISORA, SOCORRO! PRECISO FECHAR OS OLHOS!


LEDA – Seu filho ? Quer dizer que você é a geratriz de Valdo ?


VERA – Isso mesmo, feche os olhos para não ver meu rosto. Aproveite, fuja! E VOCE TAMBÉM SUPERVISORA! OLHE PARA MEU ROSTO AGORA!


LEDA – TOME SUA MATRIZ DE UM IDIOTA ! O QUE VOCE PENSA QUE ESTÁ FAZENDO? POR QUE ESTÁ PROTEGENDO ESSE IMBECÍL ? VAMOS, NÃO FIQUE AÍ CALADA NO CHÃO. VAMOS FALE!


VERA - Agora não adianta falar mais ...


LEDA - Vamos atrás dele, Oficial . E peça reforços para conter a professora e os alunos. (saem)


ACIMA DA CAVERNA A ANTE SALA DO ESCRITÓRIO DO SÁBIO MUTT

IRIS - (cantando em forma de rap)


quando eu conhecer alguém corajoso...alguém mais inteligente do que eu ...


que vai me levar longe destas rotinas! desta mesmice de todos os dias !


vou querer uma vida a dois, como nunca casal algum viveu !


com meu parceiro desta aventura . mas este cúmplice não surgiu ainda !


SÁBIO MUTT - (de fora ) IRIS, VEJA QUEM É ?


IRIS – JÁ ESTOU INDO SENHOR MUTT. DEIXA COMIGO! QUEM ESTÁ AÍ ? O QUE DESEJA ?


VALDO - (de fora) O Sábio Mutt mora aqui ?


IRIS - O que?


VALDO - Preciso falar com ele. É urgente!


IRIS – NÃO ESCUTO, FALE MAIS ALTO !


VALDO – Não posso. Não quero que ninguém me ouça !


IRIS – SE NÃO ESCUTO VOCE NÃO ENTRA !


VALDO - É confidencial, não posso explicar para outra pessoa...


IRIS – Se não disser quem é não entra ! Não adianta ficar cochichando...


VALDO – O QUE VOCE DISSE ?


IRIS – PERCEBEU COMO NÃO DÁ PARA ESCUTAR ?


VALDO - SOU VALDO WILL, TRABALHO NA CAVERNA...QUERO PERGUNTAR PARA O SÁBIO MUTT SOBRE O OBJETO QUE ENCONTREI.


IRIS - Um objeto ? Minha intuição diz que preciso ver esse objeto. VÁ ENTRANDO!


VALDO – Onde está ele ?


IRIS – Eu que pergunto: Cadê ele ?


VALDO - Cadê o que?


IRIS - O objeto, o que mais poderia ser?


VALDO - Vou mostrar só para o Sábio Mutt. Nem sei quem é você...


IRIS - Não está vendo que sou a sobrinha dele, a Iris ? Você não pode ver, Desculpe...


VALDO – Não posso ? Claro que posso...Claro que não posso ! ... Não, posso sim ! Mas, sabe, eu posso e não posso...


IRIS - Pode ou não pode me ver ? Eu posso...se quiser! E você nem precisa ficar na minha frente...


VALDO - Eu posso também....mas só se você não me denunciar...


IRIS - Mas você pode me denunciar também!


VALDO - Espera aí, você disse que se eu não ficar na sua frente, mesmo assim você pode me ver ?


IRIS - Eu estou vendo você nesse instante...


VALDO - Você está me espiando com o canto do olho!


IRIS - Então você está me espiando também!


VALDO - Você é bem esperta. Será que a Lei permite esse modo de olhar?


IRIS - Não permite. Mas se você não me denunciar....


VALDO - Não denuncio não!


IRIS - Eu também não ! E o objeto ? Você vai confiar em mim ? Agora somos cúmplices...


VALDO - Vou mostrar apenas para o Sábio Mutt, já falei!


IRIS - Mas fui eu quem examinei todos os objetos da caverna. Meu tio é cego...


VALDO - Mas eu tenho perguntas a fazer. Você não tem as respostas...


IRIS - Claro que tenho. Mais do que o meu tio. Além disso sou uma cientista.


VALDO - Mas você é muito jovem.


IRIS - Sou jovem e sou bonita. Não sou?


VALDO - Você é bonita mesmo espiando só com o rabo do olho...e tem os cabelos penteados ! Como consegue se pentear ?


IRIS - Porque eu me vejo.


VALDO – Ah! Você está caçoando de mim. Não é possível você se ver !


IRIS – Mas eu tenho uma superfície reflexiva pequena. Você quer se ver?


VALDO – A superfície perdida ! Uma superfície que reflete seu rosto ? Você roubou...


IRIS - Sabe? Havia um rolo com uma imagem de moça sorrindo e atrás...


VALDO - a jovem que sorri ! Então aquilo era sorrir ! Ai, não deveria ter falado...


IRIS - Então você viu a imagem da moça ? E está escondendo aí atrás...


VALDO – Estou escondendo ? Ah! Essa aqui ? Mas não entendo o que este rolo tem a ver com a superfície reflexiva que você roubou...


IRIS - Seu espertinho ! Eu não roubei. Apenas emprestei. Mas a imagem foi rasgada...


VALDO - Os meninos da escola rasgaram...Só sobrou esse pedaço.


IRIS - Eles viram também? Você está mostrando para todo mundo ?


VALDO – É claro que não ! Mostrei apenas para a minha matriz e professora mas os alunos pegaram, olharam e rasgaram. Todos queriam ver ao mesmo tempo...foi um acidente.


IRIS - Por favor, não mostre e não fale a mais ninguém. Combinado ? Agora, veja aqui atrás.


VALDO - Tem uns escritos que não entendo....


IRIS - Essa é a fórmula para se fazer superfície reflexiva.


VALDO – Então dá para fazer a tal da superfície reflexiva ?


IRIS – Quieto !


SÁBIO MUTT - ( de fora ) IRIS, QUEM ESTÁ COM VOCÊ?


IRIS - É UM JOVEM QUE TRABALHA NA CAVERNA. VEIO PERGUNTAR SE QUERO PASSEAR COM ELE.


VALDO - Desculpe, mas não é isso. EU QUERIA SABER...


IRIS - NÃO LIGA PARA O QUE ELE DIZ, TIO. ELE É MUITO FALANTE...


VALDO – Mas eu quero saber mais sobre a imagem e a superfície...


SÁBIO MUTT - (entrando) Quantas vezes preciso dizer que não quero você andando por aí acompanhada ? E esse, ainda por cima, é muito jovem !


VALDO - Como sabe que sou jovem ? Você está me olhando !


SÁBIO MUTT - Eu posso olhar. Sou cego, olho e não vejo.


VALDO – Então não dá para saber que sou jovem...


SÁBIO MUTT - Eu escuto muito bem. E essa voz é de alguém muito jovem.


IRIS – Valdo, você já não estava indo embora? Vamos, despeça do meu tio...


VALDO – Estava indo ? Mas eu não sabia...


SÁBIO MUTT - Espera, não vá ainda. Creio que você tem perguntas a fazer.


IRIS - Não tem não. As perguntas dele são ridículas para serem respondidas por um sábio.


VALDO - Iris, deixa eu fazer só uma pergunta ?


SÁBIO MUTT - Pode fazer mais de uma...


IRIS - Veja bem o que vai perguntar. Não esqueça o nosso trato...


VALDO – Nosso trato ? Eu não sabia que havia um trato...


IRIS – Fizemos um trato, não se esqueça !

VALDO - Por que o senhor é chamado de Sábio ?


SÁBIO MUTT - Boa pergunta! Sou Sábio porque respeito as regras, a Lei !


VALDO - Mas eu também respeito e ninguém diz que sou Sábio ?


SÁBIO MUTT - (cantando em forma de rap)


sei tudo sobre a lei e as regras.


por essa razão ou posso aceitá-las


ou posso provar que estão erradas !


porém como sábio prefiro


esquecer o que sei e cumprir a lei. não preciso


ver nada novo. quero seguir a lei e as regras antigas.


é mais seguro para mim ! é mais confortável para vocês !


olhar o olhar de outro é fatal !


se for apenas para o sentir o desejo


de se beijar é bobagem !bobagem !


VALDO – (cantando em forma de rap)


Beijo ? O que é beijo ? Desejo ? O que é desejo ?


SÁBIO MUTT - (cantando em forma de rap)


se o beijo acontece vem o vírus e com a ele a má sorte !


VALDO – (cantando em forma de rap)


Vírus ? A sorte ? O que é tudo isso ? Beijo, Desejo, Vírus, Sorte ?


SÁBIO MUTT - (cantando em forma de rap)

Ninguém quer e nem vai ter má sorte ! A morte !


Ninguém vai ter má sorte e nem quer ! A morte !


VALDO - E é por isso que é Sábio ? Por medo da morte ? Então vou lhe falar o que sinto! Não me importa se é o Sábio, o Cego ou o Tio !


IRIS – Calma! Não ponha tudo a perder com sua pressa !


SÁBIO MUTT - Iris, quieta! Nada que ele disser vai modificar meu pensamento !


VALDO - Para mim, senhor MUTT, um sábio de verdade quer conhecer o que é novo. Não o que é velho ! O que é novo nasce. O que é velho morre !


SÁBIO MUTT - Tanto drama apenas para dizer isso ?


IRIS - VALDO, a gente não ia passear ?


VALDO – Ia ? Que bom ! Mas eu não sabia...Depois a gente vai então...Tem mais, senhor MUTT.


SÁBIO MUTT - Que é isso ? Por que aproxima sua mão de mim ? Vai me bater ? Tente !


VALDO - Não bato pois não vejo seu rosto. Mas o senhor "ouviu" a minha mão ? Ser cego para não ver é um medo confortável. Mas o senhor vê de verdade mas...finge...


SÁBIO MUTT - Não me ofenda ! Seus sentimentos nada valem.


VALDO - E quanto a Iris...


IRIS - Por favor não fale de mim !


SÁBIO MUTT - O que tem minha sobrinha ?


VALDO - Ela nem deve ser sua sobrinha !


SÁBIO MUTT - E por que ?


VALDO - Porque ela não é falsa como você !


IRIS - Pare com isso. É verdade, eu não sou sobrinha legítima mas sou protegida pelo senhor MUTT e aprendo muito com ele.


VALDO - Enquanto estiver com ele corre o risco de aprender a ser uma pessoa falsa...


SÁBIO MUTT – Falsa , falso ! E de que adianta ser integro ? Cresça, rapaz, cresça e seja inteligente. Por que tentar mudar as regras. Somos felizes com elas.


VALDO - Não sou feliz, vivo sufocado por não entender


SÁBIO MUTT - E não sou eu quem vai lhe explicar ! Suma da minha frente. E você fique longe dele !


IRIS - Senhor MUTT sinto muito, eu vou sair com ele ! Valdo, me espere lá fora. Vou apanhar uma coisa, você sabe o que é ...E já saio.


VALDO – Sei ? Não sabia que sabia...que estranho ... (VALDO sai)


SÁBIO MUTT - Não vai sair com ele ! Se sair não entra mais nesta casa ! Ele é mais um rapaz para a sua turma, não é ? Preciso falar disso com a Supervisora Leda.(sai)


IRIS - Supervisora ? Preciso ser rápida. Onde está a minha superfície reflexiva ?Acho que está por aqui. (cantando em forma de rap)


creio que conheci alguém corajoso ! alguém inteiro como eu !


para me levar longe dessas rotinas e da mesmice


de todos os dias ! vamos ter uma vida a dois,


como casal nenhum já viveu !


mas o meu parceiro nessa aventura está me esperando.


vamos pois, eu e você, minha pequena superfície reflexiva,


refletir novas regras! meu cúmplice ! me aguarde ! vamos fazer novas


todas as coisas ! vamos refletir as falsidades...


VALDO – ( de fora ) IRIS! IRIS !


IRIS – Na hora de sair ! Quem será que está aí fora ? Impossível que a Supervisora já tenha chegado...QUEM ESTÁ AÍ ?


VALDO – ( de fora ) SOU EU !


IRIS - Claro que é ele. Só pode ser ele, para responder assim! VALDO , ENTRA LOGO!


Onde você estava ?


VALDO – Eu me escondi atrás do monte de areia. Logo que o Mutt saiu da casa eu voltei.


IRIS – Por que voltou ?


VALDO – Não sabia onde ir e queria estar com você...


IRIS – Isso é muito bom pois também gosto de estar com você. Sabe o que é isso ?


VALDO – Claro que sei!


IRIS – Você sabe ? Não é possível você saber !


VALDO – Não é possível eu saber ? Então não sei ! Mas parece um pequeno círculo de metal com um suporte para segurar, conforme você está fazendo...


IRIS – Claro que é tudo isso. Más é muito mais. Tem este outro lado do círculo. Sabe o que tem nesse lado ?


VALDO – Como vou saber ? Só você virar para o meu lado...


IRIS – E eu vou fazer isso e sabe o que vai acontecer ?


VALDO – IRIS, pare com isso! Está me matando de curiosidade ! Vamos logo !


IRIS – Você vai ficar tonto, tonto, tonto...


VALDO – Deixa eu ver...Ai ! Estou tonto mesmo. Vira isso para lá! Não quero olhar mais...


IRIS - Isso é a minha pequena superfície reflexiva !


VALDO – A superfície reflexiva ! A que você roubou ! Então ela refletiu meu rosto ? Meu rosto! Então aquele era o meu rosto ? Que rosto mais peludo !


IRIS – Peludo, claro, não pode se ver para arrumar essa barba .


VALDO - Quanto tempo eu esperei por esse momento. Quero ver mais, Iris !


IRIS – Mas pediu para virar para mim...então não mostro mais...fica tonto....


VALDO – Deixa de me atormentar. Deixa eu ver, me dá aqui, vai ! Que cabelo despenteado, tão diferente do seu! Meus olhos, meus olhos são azuis, minha boca...


IRIS - Seus olhos devem ser lindos! Neles verei os meus ! Seus lábios feitos para beijar !


VALDO – De novo isso ! Beijar ! O que é isso !


IRIS – Quieto, tem gente aí fora...QUEM ESTÁ AÍ. Me dá a pequena superfície, preciso esconder. Você também tem que se esconder. Mas onde ? Ai, Também eu preciso me esconder! Pode ser a Supervisora e o Mutt! Mas como chegaram tão depressa !


OPERADOR – Iris, abra logo. Não posso ficar muito tempo...


IRIS – QUEM ESTÁ AÍ MURMURANDO...


OPERADOR – KÁIO, ANDA LOGO !


IRIS – Ai que bom. É o Kaio. VAMOS! ENTRA...


KAIO – Por que demorou ? Desculpe, pensei que estava sozinha...Volto depois...


IRIS – Nada disso, boboca. Venha aqui e me dê um abraço.


VALDO – Um abraço nele ? Iris, quem é esse ?


KAIO – Iris, quem é esse aí ?


IRIS – Kaio, este é o Valdo, não precisa se preocupar com ele. Valdo, este é o Kaio, um grande amigo meu, não precisa ficar com ciúme, viu ? :


KAIO – Por que não devo me preocupar com ele ?


IRIS – Porque ele sabe da imagem, sabe da superfície...


VALDO – QUIETA MOÇA! Por que está falando essas coisas minhas para ele ?


IRIS – Diga, Valdo, o que o Kaio tem na mão ?


VALDO – Uma câmara ! Estamos perdidos. Ele é da imprensa e vai nos denunciar, Iris!


KAIO – Deixa de tremer, rapaz. Não vou denunciar ninguém! Sou o operador desta câmara...


IRIS – E ele vê as pessoas por aqui...


VALDO – Pela objetiva ! Vê o rosto das pessoas ?


IRIS - Assim como você viu a imagem da moça, como viu seu rosto...


KAIO – Você mostrou a superfície reflexiva para ele ?


IRIS – Mostrei sim. Estamos todos do mesmo lado.


KAIO – Mas o outro lado vem vindo aí !


IRIS – Esqueci da Supervisora ! Precisamos sair daqui!


KAIO – Os jornalistas eram para vir. Mas estão demorando demais. Vinham entrevistar o Sábio Mutt e você!


VALDO – Vem vindo todo mundo do outro lado! Precisamos fugir! Mas para onde: ?


(IRIS cantando em forma de rap)


para cima, para o alto, vamos fugir. para o reator nuclear,


(KAIO cantando em forma de rap)


vamos nos abrigar no esconderijo dos jovens!


para a montanha, para trás dos montes de minerais, onde os do outro lado nunca vão!


(IRIS e KAIO cantando em forma de rap)


vamos fugir! vamos nos abrigar longe das pessoas das cavernas!


longe de tudo! que é velho! que é absurdo! como não poder ver nosso próprio rosto, pentear nossos cabelos ! onde podemos sorrir!


VALDO - (cantando em forma de rap)


Sorrir ...sei lá o que é sorrir


KAIO - (cantando em forma de rap)


Sorrir é abrir a boca, separar os lábios, mostrar


os dentes bem brancos, ser feliz!


( cantam em forma de rap os três juntos )


Ser feliz é abrir a boca, separar os lábios,


mostrar os dentes brancos, é sorrir!


OFICIAL – ( de fora ) SUPERVISORA, OUÇA TEM VOZES FALANDO VERSOS


SÁBIO MUTT – VERSOS SEM RIMA ESTÃO QUASE CANTANDO...AÍ DENTRO !


LEDA – SONIA, VAMOS PRECISAR INVADIR ESSE LUGAR. MUTT É AQUI MESMO ?


TENENTE – SE VAMOS INVADIR ENTÃO PODE DEIXAR COMIGO !


SÁBIO MUTT – ESTÃO AQUI DENTRO, SUPERVISORA.


( os três jovens cantam em forma de rap )


PARA CIMA, PARA O ALTO, VAMOS FUGIR


Para cima, para o alto, vamos fugir


Para cima, para o alto, vamos fugir


Para cima, para o alto, vamos fugir


( os três saem por outra porta)


BEM ACIMA DA CAVERNA NO ALTO DA MONTANHA O ESCODERIJO


IRIS – Juvenal, este é o Valdo. Valdo, este é o Juvenal, aquele é o Abelardo.


JUVENAL – Mais um para nossa turma, Iris ?


IRIS – E esse é um dos mais ativos !


JUVENAL – Seja bem vindo ao grupo dos jovens rebeldes !


VALDO – Obrigado, eu sou um jovem rebelde mesmo !


ABELARDO – Veio ajudar a gente ?


VALDO – Vim, sim. Para mudar tudo o que é irracional ! Iris, e quem é aquele mexendo naquela coisa lá ?


IRIS – Kian, venha aqui conhecer o Valdo !


KIAN – Daqui a pouco eu vou ! Agora não posso parar ! Está quase no ponto.


ABELARDO – Trouxe a fórmula para calcular o tempo para fusão dos elementos ?


IRIS – Trouxe. Está aqui. E sabem quem conseguiu ? Este rapaz.


ABELARDO – Mas o rolo com a fórmula estava encaixotado. Como ele conseguiu?


IRIS - Já dava a fórmula como perdida pois não pude esconder o rolo antes de ser encaixotado.


KIAN – Não me diga que, de repente, me aparece o Valdo com ela ?


VALDO – Foi sem querer que isso aconteceu. Mas causei muita encrenca...


IRIS – É verdade ! Por causa dele todos nós agora corremos perigo de sofrer a cirurgia. Ele viu o rolo com o rosto da moça sorrindo, já sabe da fórmula para fazer a superfície reflexiva e já se olhou!


JUVENAL – Como é isso ? “Todos nós agora corremos perigo” ? Nós não corremos perigo. Os do outro lado nada sabem de nós...


KIAN – Vai ver ele denunciou o nosso grupo para os do outro lado...


VALDO – Eu não denunciei ninguém! O que vocês estão fazendo ?


IRIS – Não denunciou, Kian. Aqui está a fórmula para você saber o tempo exato de cada elemento.


KAIO – A situação da Iris e a minha é diferente de vocês.


ABELARDO – Por que haveria de ser diferente de nós ?


IRIS – Porque a Supervisora e o Mutt sabem que estive com o Valdo.


KAIO – E os meus colegas jornalistas não sabem onde estou.


VALDO – Eu fiz uma pergunta. Por que ninguém me responde ?. O que vocês estão fazendo ?


ABELARDO – Se qualquer um de vocês for pego pela Oficial ou pela Supervisora, podemos ser torturados.


KIAN – E denunciar todo mundo! Amigos, ninguém mais está seguro!


VALDO – Mesmo torturado eu não vou denunciar nenhum de vocês, podem acreditar!


KAIO – Você não sabe nada de tortura! Se eles quiserem você denuncia até a sua própria matriz!


VALDO – A minha matriz! Coitada, já deve estar sendo torturada. Os alunos dela...


IRIS – Valdo, esqueça o passado senão vamos morrer de medo todos nós...Precisamos sonhar com o futuro !


JUVENAL – E vamos ficar aqui esperando sentado chegar esse futuro, Iris ?


VALDO – Será que dá para um de vocês explicar o que é isso que vocês estão fazendo aqui nesse caldeirão ?


ABELARDO – Tira a mão daí. Vai se queimar. São mais de 500 graus de temperatura!


KIAN - Estamos fundindo várias materiais nele.


KAIO – De acordo com a fórmula que a Iris trouxe e você já viu, fundindo os elementos podemos produzir superfícies reflexivas.


VALDO – Que elementos são esses ?


KIAN – Não podemos falar quais são


IRIS – Por que não podemos falar, Kian ?


KIAN – Se ele for torturado vai dizer quais são esses elementos.


VALDO – Podem me torturar o quanto quiserem nunca vou revelar!


JUVENAL – Não pode contar para ninguém que os elementos são os mesmos usados para criar a energia neste satélite


ABELARDO - Mas Iris, responda, por favor, o que vamos fazer daqui para a frente ?


IRIS – Proponho que a gente vá até as últimas consequências...


VALDO – Isso mesmo! Eu quero saber tudo o que está proibido. Por que não nos olhamos, o que pode acontecer se a gente se olhar...


KAIO – Você é o único aqui de nós que já viu outro rosto de frente. Como se sentiu ?


VALDO – Tontura! Quando minha matriz me olhou de frente, diretamente, olhos dela nos meus olhos, pensei que fosse desmaiar de tão tonto que fiquei.


IRIS - E a professora Vera, sua matriz, como se sentiu ?


VALDO - Ela falou que estava tonta também. Mas isso é muito pouco. Quero descobrir mais. Quero saber o que é o sorriso, aonde ele leva a gente.


ABELARDO - Vamos com calma. Precisamos de um plano.


KIAN – Vou parar de fazer esta fusão. Vou abandonar tudo isto. Caiam na realidade, companheiros. Não temos mais futuro. Vamos ser descobertos. O que adianta saber fazer superfícies ? Apenas para ficarmos vendo nossos rostos refletidos, em algum canto escondido ?


IRIS – Nada de desespero, Kian. Aí a situação fica pior ainda. Vamos continuar o processo de fusão. Precisamos que todos tenham suas pequenas superfícies!


KIAN – E vamos fazer o que com esses objetos que podemos produzir ? Cada de nós vai ficar vendo o próprio rosto até os do outro lado nos localizarem ?


VALDO – Não quero ver apenas o meu rosto ! Quero ver o rosto da Iris, quer dizer, de cada um de vocês.


KIAN – Saia de perto de mim ! O meu você não vai ver! Não quero sentir tontura e não sei o que vai acontecer depois.


IRIS – Mas a gente precisa experimentar! Ver o que acontece, ver as reações...


KAIO - Essa é a cientista falando...Mas eu já vi os rostos pela objetiva da câmara e não fiquei tonto.


VALDO – Eu vi a imagem da moça sorrindo e também não fiquei tonto...


JUVENAL – Vamos agir! Quem vai ser a cobaia ? Quem daqui de nós vai olhar o outro.


IRIS – Eu quero ser olhada.


VALDO – Eu quero olhar a Iris !


KAIO – Eu também quero ver o rosto da Iris !


VALDO – Mas é melhor você não olhar a Iris !


KAIO – E por que não posso ? Por acaso só você pode olhar o rosto dela ?


IRIS – CHEGA DE DISPUTA. EU VOU ESCOLHER QUEM ME VAI ME OLHAR !


VALDO – E também quem você vai olhar, não é ?


IRIS – Isso mesmo ! Você, Kaio...


VALDO – O Kaio, ai, que azar o meu...


KAIO – UAUUUUUUU! Decisão muito acertada !


IRIS – Calma! Vocês não me deixam falar ! Por que não são mais inteligentes ? Este momento vai ser muito importante para todos nós, não e ?


ABELARDO – É muito importante, gente! Seria muito bom se um momento como esse pudesse ser registrado, guardando muito bem as imagens !


KAIO – Eu posso fazer isso, com a minha câmara ! UAUUUU, posso gravar esse olhar da Iris, com , com ...com ...Ah! Não !


IRIS – Meu olhar com o Valdo, e o Valdo com o meu olhar !


KAIO – Que seja assim. Ei, o que estão esperando. Fiquem aqui, na frente da câmara. Isso, um de frente para o outro. Já !


IRIS e VALDO – (cantando em forma de rap)


uma vertigem estou me sentindo tonta!


preciso me amparar em seus braços!


estou me sentindo tonto.


vou abraçar você para não cair!


estamos tontos mas é tão bom!


porque seus olhos são lindos!


porque sua boca é linda, moça!


meu rapaz, sua boca está muito perto da minha.


não sei se vou resistir! nem quero eu .


nem eu quero. dói meu pescoço.


também dói o meu.


maior que a dor é essa alegria


que junta nossos lábios.


KIAN - Alguém faça alguma coisa! Eles estão muito calados !


KAIO - Os corpos dos dois estão grudados!


ABELARDO – Deixa assim. Precisamos ver no que vai dar! Kaio, o que você está vendo aí pela objetiva ?


KAIO – Sou o primeiro Operador a ver dois beiços se unindo...


JUVENAL – Kaio, você está gravando tudo ?


KAIO – Claro que estou. Se não gravar essa coisa extraordinária quem vai acreditar depois que isso está acontecendo !


IRIS – Meu coração bate tão forte! Parece que seus lábios estavam sugando ele. Valdo, você está bem. ? Você não fala nada ?


VALDO – Deixa eu recuperar o fôlego.


KAIO - Vejo o rosto dos dois pela objetiva...estão mais vermelhos do que o tacho da fusão para preparar a superfície...


IRIS – Pessoal! Foi maravilhoso ! Senti muito medo quando ele ficou mudo...


VALDO – Fiquei mudo por que nunca havia sentido o hálito de alguém dentro de minha boca !


IRIS – Além do hálito, a língua dele ficou roçando na minha, misturando saliva...


KIAN – Ai, que nojo ! Ainda bem que não tenho de fazer isso...


VALDO – Tive uma idéia! Vamos nos dar a mão todos! Kian, pare de fazer a fusão. Venha cá.


IRIS – Isso mesmo! Todos de mãos dadas. Assim a tontura fica mais fácil de suportar!


ABELARDO – Agora ? Não é melhor fazer mais tarde ?


JUVENAL – Tem que ser agora ! Eu também quero experimentar olhar o olhar de vocês !


ABELARDO – Mas Juvenal, funcionou para eles dois. Será que vai dar certo para todos nós ?


IRIS – Deixem de serem medrosos ! Vamos todos nós nos olhar e já ! Venham aqui ! Vamos fazer uma roda! Todos se dando a mão !


KAIO – Eu não vou sair daqui.


IRIS – Mas por que ? Sabe o que vamos fazer ? Vamos nos olhar todos, rostos nos rostos.


KAIO – Por isso mesmo não vou participar disso. Quero ficar de fora para gravar tudo !


Quero ver todos esse beiços se aproximando e se colando...


KIAN – O que você chama de beiços ?


KAIO – Chamo os lábios de beiços. Talvez porque lembre a palavra beijo...


JUVENAL – O que é beijo ?


KAIO – Você e a Iris acabaram de fazerem isso; Quando os beiços se juntam...está escrito na Bíblia...


IRIS – Então você viu esse livro na caverna, espertinho ? Espera um pouco. Kian, porque você não entrou ainda na roda ?


KIAN – Se vocês acham que vou encostar meus beiços nos dos outros, podem me esquecer....Ainda se fosse nos da Iris.


KAIO – É bom você esquecer disso. Nem eu beijei a Iris ainda...


VALDO – Espero que ninguém beije a Iris, quero dizer, ninguém vai beijar ninguém, Só olhar, olhos nos olhos, certo ?


KAIO – Estou gravando. Isso, todos contando juntos, você também Kian. Quando chegar a cinco todos abrem os olhos. Vamos lá! ( canta em forma de rap)


um, dois, três, quatro


(Cada um canta em forma de rap um número ) – um, dois, três, quatro, cinco ...


TODOS – JÁ ! Abrir os olhos !


KAIO – Ei, Todo mundo disse “Já “ e todo mundo ficou de olhos fechados ! Por que ? Vamos se olhem sem medo! Vamos de novo!


(Todos cantam em forma de rap )


um, dois, três, quatro, cinco ...


Abrir os olhos ! JÁ !


KAIO - Agora sim ! Estou olhando a Iris e o Valdo se olharem. Isso ! Vão abrindo os olhos...Abelardo, Juvenal, vão se olhando, Kian, Mas cuidado ! Devagar!


KIAN - Ai, me acudam, estou ficando tonto !


ABELARDO – Quieto, Kian. Isso acontece porque nossos pescoços não estão acostumados.


JUVENAL – Acho que estamos todos ficando tontos. É uma viagem, viva !


IRIS – Segurem as mãos uns dos outros. Ainda bem que estamos todos em roda de mãos dadas. Desse jeito ninguém cai.


ABELARDO – UAUUUUUUU! Melhor que qualquer droga !


JUVENAL – Agora vamos nos aproximar, vamos fechar a roda !


KIAN – Mas sem se tocar. Não quero beijos dos beiços de vocês!


KAIO – Estou gravando vocês. Agora para trás de novo. Isso, girando, mas devagar. Gira, gira roda, gira!


TODOS – Para o centro ! UAUUUU! Para fora ! UAUUUUU ! Para a direita ! UAUUUUU ! Para a esquerda ! UAUUUUU!


IRIS – CHEGA GENTE! NÃO AGUENTO MAIS TANTA EMOÇÃO. QUERO DESCANSAR!


VALDO – Vou me deitar aqui na grama para recuperar o fôlego.


JUVENAL – Eu também ! Vejam! Olhar as nuvens parece ser tão diferente neste momento....


ABELARDO – Porque nós somos diferentes dos outros de agora em diante....


IRIS – Fizemos tudo o que é velho ficar novo de novo !


KAIO – Sabem o que vou fazer ! Vou levar esta gravação para ser mostrada para todos !


TODOS – UAUUUU!


KIAN – NADA DISSO ! Vamos nos expor e a Sônia vem caçar a gente!


VALDO – Precisamos mostrar para todos o que fizemos!


IRIS – Vamos mostrar que Não fazer o que é proibido é bobagem !


JUVENAL – Não vamos recuar...Não há caminho de volta ! Depois de agora quem de nós vai querer viver como era antes ?


IRIS – Eu não posso voltar mesmo e nem quero nunca mais e quero beijar a toda hora o Valdo, quer dizer, as pessoas. Mas onde vamos viver ?


KAIO – Vamos viver com todo mundo. Todos vão ver o vídeo e vão experimentar e não vai ter como o outro lado impedir !


KIAN – PAREM DE SONHAR ! Melhor só a gente viver aqui em comunidade. Já somos diferentes dos outros. Os do outro lado são mais fortes que nós. Nem vão deixar que a gente mostre a gravação.


VALDO – O Kian tem razão. Não podemos nos expor todos. Proponho que o Kaio mostre apenas a primeira parte, onde apareço beijando a Iris.


IRIS – Isso mesmo. Quando eu beijo o Valdo . Afinal de contas, nós dois já estamos marcados mesmo.


ABELARDO – Eu também concordo. E sabem por que ?


IRIS – Não sei, Abelardo. Mas estamos esquecendo a fusão e vamos perder a produção das superfícies.


ABELARDO – Não se preocupe. Já vamos lá cuidar do forno. O que eu quero dizer é que os do outro lado não conhecem nosso esconderijo aqui junto do reator atômico. Então cada pessoa que assistir o vídeo e experimentar nós damos um jeito de trazer para fazer parte da nossa comunidade.


JUVENAL – Foi bom falar na fusão, Iris, pois tive uma idéia. Se fizermos uma superfície reflexiva bem grande, vamos poder derrotar os do outro lado.


KIAN – Não acredito nisso. Eles são mais fortes do que nós !


VALDO – Mas vamos levar a superfície reflexiva gigante virada para eles.


KIAN - E o que adianta isso ?


VALDO – Eles não vão querer ver seus rostos refletidos e nós avançamos !


ABELARDO - Assim vamos chegar ao local de transmissão para mostrar o vídeo.


JUVENAL – Eu vou levar o vídeo. Os outros ficam aqui. Não devem se arriscar.


IRIS – Juvenal, eu vou levar. Esqueceu que você não foi reconhecido ?


KAIO – Mas eu trabalho lá. Sei como entrar na sala de transmissão. Vou lá sozinho.


VALDO – Mas a superfície gigante deve ficar pesada! Sozinho não pode carregar. Eu vou junto.


ABELARDO – Mas é muito pesado para um apenas. Vai precisar de dois para isso !


IRIS – Abelardo, você não pode ir. Ninguém também conhece você e eles não devem saber o que você está fazendo. Então sou eu que vou junto com o Valdo. E chega de conversa. Agora é a hora de ação. Vamos fazer essa superfície gigante !.


TODOS - UAUUUUU


NA CAVERNA


LEDA – O que está acontecendo ? Oficial ? Não sei se você me ouve. Está muito barulho aí... Não estou ouvindo bem você, Sônia !


OFICIAL – (voz vinda do fone) Um momento, Supervisora! Estamos com problemas!


LEDA - Que problemas? Vamos, responda logo, quero saber que barulho todo é esse?


OFICIAL - (voz vinda do fone) Supervisora, seja firme! Já chamamos reforços!


LEDA - Fale logo ou você vai ver o que é ser firme!


OFICIAL - (voz vinda do fone) Senhora Leda! Jovens não identificados estão entrando no prédio da TV! Estou em contato permanente com a segurança na portaria!


LEDA - Mas o que está acontecendo! Por que estão fazendo isso ?


OFICIAL - (voz vinda do fone) Estão me informando, já entraram, ninguém sabe para onde foram! Eles olhavam os seguranças de frente! Estão desrespeitando a ordem...Nossos seguranças não puderam atacá-los !


LEDA – Por que não puderam ?


OFICIAL – (voz vinda do fone) Para atacar têm de olhar para uma superfície reflexiva ! Ela é enorme !


LEDA - Mande os seguranças se olharem na superfície reflexiva mas não deixem esses jovens ficarem ai !


OFICIAL - (voz vinda do fone) Mas Supervisora...


LEDA – Sônia ! Vamos acabar com essa desordem!


OFICIAL - (voz vinda do fone) Senhora , com todo o respeito mas nossos seguranças não vão olhar para a superfície !


LEDA - Você sabe o que significa a falta de ordem? Sabe? Sem ela não há estrutura, não há poder! SEM PODER NÓS DESAPARECEMOS! VOCE E EU SEREMOS NADA! ZERO! ANDA, VÁ CUMPRIR SEU DEVER!


OFICIAL – (voz vinda do fone) É por causa da ordem mesmo que eles não podem olhar ! Estão cumprindo ordens!


LEDA – Você quer que eu vá aí resolver esse problema ?


NA CAVERNA O CENTRO DE TRANSMISSÃO DA TV


VALDO – Pronto já chegamos na sala de transmissão. Que bom que está vazia. Você consegue fazer a transmissão sozinho ?


KAIO – Pode deixar. Isso tudo aqui conheço muito bem. Daqui uns vinte minutos essa reportagem vai ao ar. Enquanto isso eu saio sem que ninguém perceba.


VALDO – Eu e a Iris ajudamos você a sair, criando uma confusão na sala ao lado, certo ?


IRIS - Vamos então distrair os seguranças com nossa invenção, a super superfície reflexiva gigante !


NA CAVERNA A ANTE SALA DO CENTRO DE TRANSMISSÃO DA TV


OFICIAL - (voz vinda do fone) Não dá mais tempo...eles já estão perto daqui...já estão aqui....olhe, Supervisora, se olhar para eles eu mesmo me vejo na superfície reflexiva...! Supervisora...o que eu faço?


LEDA - (voz vinda do fone) Desvia o olhar, idiota! Arrebenta essa superfície! Você sabe que não podemos nos olhar! O que vai ser de nós sem a Lei? Anda ! Vá cuidar destes idiotas ! Mas não sejam violentas! Vou precisar deles!


VALDO - Até que enfim! Conseguimos! Não largue da superfície, Iris !


IRIS - Você é o meu líder! Nós vamos vencer!


VALDO – Iris, beijo agora não! Depois a gente faz isso. Vamos ficar atentos...


IRIS – Veja quem está atrás de você !


VALDO – Oficial Sônia !


OFICIAL – Vocês dois! Cabeças para baixo ! Tenho aqui do meu lado o Tenente e os Seguranças. Não tentem reagir!


IRIS – Mas Sônia, agora é a sua vez....


OFICIAL - Minha vez do que? Vira esse rosto para baixo!


IRIS - De olhar para o espelho. De ver a sua própria imagem!


OFICIAL - NUNCA!


VALDO - Olhe para o espelho, veja você mesma como é bonita!


OFICIAL – Não adianta me tentar. Eu não olho !


TENENTE - E agora os dois de costas para nós, apoiem-se na parede ! Acreditam que podem viver sem a Lei ?


VALDO - Vamos viver sem a Lei ! A vida é uma aventura, não prendam a vida pelas leis...


OFICIAL - Você está errado! A Lei dá segurança à vida! Evita o que não conhecemos, os erros!


IRIS – Vamos Tenente, vamos Oficial, aproveitem a superfície e vejam seus rostos...


TENENTE – Nem eu nem ela não queremos nos ver!


IRIS - Mas é preciso! Senão não há liberdade...


OFICIAL - NÃO VOU ME VER! SUA FÊMEA SEM VERGONHA! Você é fraca! Foi dominada por esse macho traidor!


TENENTE - E você, por que está traindo nosso povo? Tudo por causa dessa fêmea frágil?


IRIS – Oficial , nossos lábios vão lhe dar coragem...


OFICIAL - Meus lábios ? Nossos lábios ? Imbecil ! Não sabe que transmite o vírus ? E a má sorte ?


IRIS - Veja, Oficial, veja Tenente! Vamos Valdo, me beije ! Vê, o beijo não mata, une!


OFICIAL – Tenente ! O que está acontecendo ?


TENENTE – Ninguém olhe ! Vamos desgrudando um do outro já ! Seguranças! Venham aqui!


OFICIAL – Não saiam daí! Fiquem onde estão !


TENENTE – Mas Oficial precisamos deles aqui !


OFICIAL – Mas eles precisam guardar a porta para os dois não fugirem ! Eu ajudo você !


TENENTE – Não vai adiantar; só nos dois não vai adiantar. Segurança ! Ajudem aqui. Afastem o rapaz da moça. Mas cuidado com que ela está armada com a superfície que reflete a pessoa !


VALDO – Iris, me dê a superfície! Isso. Eu lhe dou cobertura....Agora fuja! FUJA !


IRIS – Não vou fugir. Vou lutar junto com você!


VALDO - FUJA IRIS ! É PRECISO QUE VOCE AVISE OS OUTROS E VENHAM LOGO ME LIBERTAR ! ( IRIS sai )


OFICIAL – SEGURANÇAS ! ATRÁS DELA ! E você está seguro comigo. VIRE ISSO PARA LÁ ! TENENTE ! venha me ajudar!


TENENTE – PRONTO OFICIAL ! A SUPERFÍCIE ESTÁ COMIGO !


OFICIAL – E agora você não me escapa mais !




VALDO – Não quero escapar Sônia. Sabe o que eu quero ? Beijar você ! Beijar...Ai! sua animal!


OFICIAL – Essa bofetada é meu beijo especial para você ! Vamos, Tenente, me dê essa superfície.


TENENTE – Tome! O que você fazer ? Não! Não faça isso, Oficial ! E agora, como vai ser ? A Supervisora pediu para levar o prisioneiro em boa estado. Se não estiver inteiro, como ele vai delatar seus companheiros ?


OFICIAL – Ele vai ficar bem, não se preocupe. O que ficou mal foi a superfície reflexiva. A cabeça dele é tão dura que ela virou um monte de cacos. Me ajude a limpar os cacos daqui. Senão é capaz de alguém se ver neles.


LEDA – (voz vinda do fone) O que está acontecendo aí ?


OFICIAL – ( pelo fone ) Não se preocupe, Supervisora. Já agarramos o rapaz !


LEDA - (voz vinda do fone) – Não é isso que quero saber ! Estou falando da transmissão de TV nesse momento !


OFICIAL – ( pelo fone ) Não tem nenhuma transmissão de TV, Senhora !


LEDA - (voz vinda do fone) – Idiotas ! A TV está transmitindo um vídeo pornográfico. Andem logo ! Interrompam antes que mais pessoas vejam !


TENENTE – Pode deixar, Oficial , eu cuido disso !


OFICIAL – Ande logo. Ainda temos de levar este idiota para o DOUTOR ! Desmaiado ele fica mais pesado (sai o Tenente)


NA CAVERNA O LOCAL DO INTERROGATÓRIO

DOUTOR – Ponham ele aqui nesta cadeira. Isso. Amarrem os braços e as pernas dele.


OFICIAL – Pronto aí mais um embrulhado para presente. Prepare ele para o interrogatório.


DOUTOR - Para o interrogatório ? Que perda de tempo. Vamos logo para a cirurgia !


TENENTE – Oficial Sônia, se o Doutor fizer a cirurgia aí que ele não vai delatar os outros desordeiros.


OFICIAL – Cumpra as ordens da Supervisora ! Interrogatório, certo ? E vai ser bem demorado. Aumente a dose (saem ela e o TENENTE ).


DOUTOR – Muito bem! Vamos preparar o soro primeiro. O anestésico para a cirurgia deste jovem fica para depois. Vou usar esta solução pois gosto muito dela e posso fazer um pouquinho para meu uso pessoal.


VALDO – Ei você aí, me tire daqui..


DOUTOR – Já voltou a si ? Preciso aumentar a dose. Esse parece que se recupera muito rápido. E vou aumentar um pouquinho para mim, por que não ?


VALDO – Você é surdo ? Falei para me desamarrar...


DOUTOR – Meu rapaz, não dá para eu fazer isso. Vê esta seringa ? Tem aqui dentro um soro muito bom! Eu, particularmente, gosto muito dele. Tanto é que vou aplicar um pouco em você e um pouco em mim.


VALDO – Para que serve esse soro ? Você é medico ? O que vai fazer comigo ?


DOUTOR - Sou um médico, digamos, especial. Pois de tanto precisar cuidar dos meus amigos pacientes para o interrogatório, precisei, digamos, ficar também muito amigo deste soro.


VALDO – Que é isso ? Um doutor drogado não vai enfiar essa agulha em mim !


DOUTOR – Que é isso, digo eu ! Com medo de injeção ? Mas não se preocupe. Em você a dose vai ser maior, para durar mais. A minha é só para dar mais emoção no meu trabalho...


VALDO – Mas o que esse soro vai provocar em mim ? Ele vai me sedar para a cirurgia ?


DOUTOR – Nada disso. Ainda não é a cirurgia. É a fase do interrogatório. Este soro vai fazer você ficar mais cooperativo. Não tem nada a ver com a cirurgia, infelizmente. Ela é ótima. Sabe o que mais eu adoro ? Fazer cirurgias ! Você sabe como ê ?


VALDO – Não me conte pois deve ser a pior coisa que pode acontecer para alguém como eu..


DOUTOR – Assim como você como ? Para tudo mundo é muito bom !


VALDO – Mas para mim não é. Eu adoro ser como sou. Não quero sofrer nenhuma cirurgia e ficar como o pós cirúrgico lá na caverna. Não me conte nada sobre essa cirurgia !


DOUTOR – Então eu vou contar! Depois do sedativo, eu corto aqui atrás do pescoço...


VALDO – Ai! Tira essa mão gelada daí!


DOUTOR – Logo aqui tem um nervo. Está sentindo ? Dói bastante, não ? Pois eu faço uma secção nele e uma ligação com este outro nervo. E sabe o que acontece ?


VALDO – Não quero saber nada ! Solte minhas mãos para eu tampar os ouvidos !


DOUTOR - E daí em diante sua cabeça não consegue mais ficar firme. O seu queixo empurra sua cabeça para cima ou para baixo. Você nunca mais pode olhar para a frente.. Sabe por que ?


VALDO – Por favor, pare com isso, não quero ouvir nada !


DOUTOR – Que bom que posso contar então! Com esse nervo ligado a este outro aqui atrás qualquer tentativa de deixar o queixo na horizontal, causa uma dor danada ! Ah! Eu sofro tanto quando escuto os gritos dos pós cirúrgicos nos primeiros momentos !


VALDO – Então eles tentam olhar o rosto de alguém de frente ? Que horrível invenção!


DOUTOR – Não sei por que ninguém avisa a eles para não fazer isso que vai doer.


VALDO – Escuta, Senhor Doutor, eu não posso sofrer essa cirurgia. Então vamos fazer um acordo ?


DOUTOR – Um acordo ? Aqui só se cumpre os acordos da Supervisora. Se ela diz sim é sim. Se ela diz não é não ! Sabe o que ela disse hoje ?


VALDO – A meu respeito ? Não quero ouvir !


DOUTOR –Então não vou falar !


VALDO – Por favor, fale. Fale sim ! Foi alguma coisa a respeito da cirurgia ?


DOUTOR - Hoje ela me disse, com aquela voz forte: ( canta em forma de rap )


“Doutor, prepare este jovem


para o interrogatório.


Mas não se esqueça.


Tem que demorar bastante


para terminar


o efeito do soro “.


VALDO – QUE SORO É ESSE ? VAMOS CONVERSAR PRIMEIRO !

DOUTOR – Conversar ? Só se for com ela. Ela manda e eu cumpro. Quando ela fala assim é por que tem um bom motivo...INFELIZMENTE, não é o bastante para fazer já a cirurgia.


VALDO – Ela vai me torturar ? Então não tem cirurgia ?...Mas depois de eu delatar meus amigos, vem a cirurgia, não é ?


DOUTOR – Gostaria de continuar nossa conversa tão amável. Mas preciso usar o seu braço e depois também o meu. Com licença, sou uma pessoa educada, sabe ? É uma delícia esse soro, não ? Está sentindo o sangue formigar ? Ainda não ? Não se preocupe. Ele começa lá no pé e vai subindo, subindo...até chegar na sua mente e então é uma alucinação, uma bela alucinação! Vamos contar juntos: um, dois, três, quatro...por que não está contando, meu rapaz ?


VALDO – Não vai adiantar a tortura. Pode dizer a supervisora que ela vai perder o tempo dela comigo. Não vou denunciar ninguém!


DOUTOR – Pelo que noto, a droga ainda não chegou a sua língua...não quer contar ? Não tem importância. Conto eu mesmo: doze, treze, catorze...


VALDO – Não vai adiantar nada me manter aqui. Meus amigos virão me libertar. .Estou ficando tonto. Mas é uma tontura diferente. Esta não me deixa feliz...


DOUTOR – Vinte e cinco, vinte e seis...para mim já está fazendo efeito...não posso continuar contando....


VALDO – Quem desligou a luz ?


DOUTOR – Ninguém desligou. É o começo do efeito. O choque. Agora você vai dar risada até sem motivo. Eu também...


VALDO – (canta em forma de rap)


LINDO, LINDO ! Estou voando, sobrevoando o mar, as ondas...chegando à praia ...


DOUTOR – Essa é a fase do delírio. Pena que dura pouco...


VALDO – (canta em forma de rap)


Vejo crianças brincando, parece que numa praia


olhando sempre para frente, olhando para longe...


DOUTOR – Pare de dar risada, meu rapaz. Está me atrapalhando...Essa droga é muito boa mesmo, não é ? Se não fosse não estaria viciado nela...MAS ME DÁ MUITA SEDE


(canta em forma de rap)


NESTE DESERTO ! Estou...me....arrastando...no...chão...


do...assoalho...da....sala de casa!


VALDO – (canta em forma de rap)


Agora as crianças fazem um castelo de areia.


As ondas vão e vem. E o castelo desaba...


DOUTOR - (canta em forma de rap)


Também eu fazia castelos mas eram de cartas


de baralho. Depois vinha minha maninha


e com um tapa destruía tudo!


VALDO – (canta em forma de rap)


É preciso que as crianças aprendam


a surfar. Nada de castelos! É preciso ser flexível.


Mudar com as ondas...


DOUTOR –(canta em forma de rap)


A malditinha me tirava as cartas....


depois punha as cartas como pedras de dominó


uma perto da outra e depois aquela mãozinha


gorda derrubava a primeira, e a primeira


derrubava sozinha a segunda...


VALDO – (canta em forma de rap)


Para não morrer no fundo do mar


é necessário surfar...para não morrer


debaixo das botas pretas dos seguranças


é necessário correr...


DOUTOR – (canta em forma de rap)


Até que tudo caia. E aí eu enchia


ela de pancada, mesmo que para isso


tivesse que ficar de frente para ela!


VALDO – de frente para ela? De frente? Então o Doutor via os lábios dela.


DOUTOR - Já acabou a minha alucinação ? Cada vez acaba mais depressa...preciso de outra dose...


VALDO – Você não me respondeu...Que sede que estou agora...quero água !


DOUTOR – Acabou a sua viagem também ? Preciso fazer sua dose mais forte...


VALDO – Você batia em sua maninha e olhava de frente para ela ? Vamos responde !


DOUTOR – Deixa de ser besta. Não via nada na raiva, não via nada! Pensa que sou como você? Um pervertido? Olhando esses rostos ? Essas partes proibidas? Vou lhe aplicar mais esta dose. Vamos, vá se preparando para falar...quantos iguais a você, estão metidos nisso? Não adianta esconder! ! E esta dose, adivinha para quem é ? Esta aqui é para mim....


VALDO - Não vou contar ! NÃO VOU CONTAR NADA ! Eles não são culpados! Eu sim, eu sou culpado! Envolvi eles todos!


DOUTOR – Então eles não queriam ficar naquelas posições? Não queriam, é? Mas ficaram ! Como você obrigou a eles, seu tarado?


VALDO – Eu não obriguei ninguém a nada! Eles viram que eu me abraçava, que eu tocava meus lábios, que eu sorria...Já ficou escuro de novo...


DOUTOR – Para! Para com isso! Não quero ouvir mais nada!


VALDO – (canta em forma de rap)


E era muito bom! Me sentia bem acariciando minha pele.


Pele com pele. E era melhor ainda acariciar outra pele


pele que não a minha!


DOUTOR – Para! PARA ! Cala a boca, seu sádico !


VALDO – (canta em forma de rap)


Era melhor que sexo! Era como um lago de águas tranqüilas!


DOUTOR – (canta em forma de rap)


Você também estava tão tranqüila !


Escuro, muito escuro...Maninha, maninha, não queria


te matar! Porque essa mãos gordinhas


desordenam tudo o que eu faço? Tira essa mãozinha


quente de cima de mim...Tira, não agüento mais!


VALDO – (canta em forma de rap)


Os lábios, os lábios! Entreabertos,


uma fileira de dentes brancos em cima.


Outra em baixo! Perfeitos, como um colar de pérolas!


Seus lábios no meus! Os meus beijam os seus!


Nossas salivas se misturando...


LEDA – Seu imprestável! Para que serve um doutor drogado ? Tome !


DOUTOR – (canta em forma de rap)


Ai ! Não me chute mais, Maninha ! NÃO MANINHA !


Sua bota vai furar minha barriga!


Não...Supervisora ? ..ai! Por favor, pare de me chutar !


LEDA - E você, Valdo! Pare com isso!


VALDO – (canta em forma de rap)


sugando meu ar. Seus lábios me suspendem no espaço,


o mar balança nossos corpos, as ondas...ai !


LEDA – Pare imbecil! Você está destruindo todo mundo, não percebe? é doente e quer todo mundo doente também!


VALDO – Estou com muita sede. Supervisora, que horas são? Por favor me diga, faz muito tempo que estou aqui ?


LEDA - Faz muito tempo sim. E daí, vamos ficar aqui o tempo necessário para você delatar onde estão seus companheiros!


VALDO - Supervisora! Supervisora! Estou com muita sede. Meus braços estão doendo de tanto ficar amarrado. Me liberte daqui! Não agüento mais....


LEDA – Esquece a dor. Pense nas coisas boas...o sexo... me deseja muito...não ?


VALDO – Continue com seus dedos nos meus lábios! Preciso beijar, esquecer ....


LEDA - Já se esqueceu da Professora Vera?


VALDO - Professora Vera, minha Matriz !


LEDA - Das crianças da Escola ? dos Jornalistas ?


VALDO – Sei, SEI SIM ! Todos sofreram cirurgias! Transformaram todos em pós cirúrgicos ! Eles não podem mais sorrir! Não podem mais beijar!


LEDA - CHEGA DE FALAR DE SORRISOS, DE BEIJOS ! Não percebe que essas coisas atrapalham as pessoas?


VALDO – Não! Essas coisas não atrapalham não! O que atrapalha é a lei e a guardiã da lei ! É por isso que as pessoas são infelizes! Como eu aqui, morrendo de sede...


LEDA - Você é o culpado disso tudo! Manipulou os sentimentos, torceu os pensamentos deles! Deixou a ordem de lado! Pensou ser o maior de todos! Grande idiota! Arrependa-se, enquanto pode falar!


VALDO - Supervisora! Supervisora! Me liberte daqui! Não agüento mais....Um pouco de água...FAÇO O QUE QUISER MAS ME TIRA DAQUI!


LEDA - Depende só de sua vontade...Você sabe que precisa falar. Sabe que a Lei tem de ser cumprida! Quantos outros iguais a você estão cometendo essas imoralidades. Precisa dizer onde eles estão...TODOS OS NOMES, O LUGAR ONDE SE REUNEM !


VALDO – NÃO! Nunca! Eles não são responsáveis. Vão torturar, vão transformar esses infelizes que acreditaram em mim...


LEDA – Então vou torturar você ! Lembra que você também tentou me convencer ! Quantas vezes disse: "Leda, deixa eu ver seus lábios!" Verme infame, eu nunca deixei! NUNCA! Eu resisti! Resisti! Porque aqueles que não resistiram a seus apelos tem de escapar? Por que?


VALDO – Leda! Leda! Não quero ser um traidor! Mas não vou suportar a tortura. Me deixa escapar!


LEDA – Escapar! De jeito nenhum! já impregnou muitas pessoas com esses olhos! Até com esses lábios! O vírus está se alastrando...muitos, escondidos agora em suas casas, fazem esse ritual imundo que inventou. Quantos estão olhando agora seus rostos? E ainda que sair por aí! Nunca!


VALDO – Supervisora , por favor, me dê um pouco de água...depois eu faço o que quiser...


LEDA – O que eu quiser? Eu quero a Ordem! Quero saber onde conseguem os elementos para fazer a superfície reflexiva...


VALDO – Se você me der água, pode ser que eu conte...


LEDA – Prometo que se você contar sobre os elementos, eu mato sua sede ...


VALDO – Não vai esquecer disso , Leda ?


LEDA – Doutor, saia aí do chão e vá buscar um copo cheio de água. Água bem fresca, está bem ? (Doutor sai)


VALDO – Os elementos são os mesmos para gerar energia no reator. Você não vai poder acabar com eles !


LEDA – Então quero o esconderijo desses jovens, os nomes...a Lei tem que ser respeitada! Eu quero seus lábios...


VALDO – Meus lábios nos seus lábios ? Mas a Lei....


LEDA – Seus lábios na minha bota, imbecil! Quero você humilhado! Vencido! Derrotado! Só assim aceitará seu castigo como uma salvação. Você vai lamber minha bota para ficar livre de você mesmo!


VALDO – Meus lábios desejam os seus...não sua bota!


LEDA – A bota! Será rápido! Tudo acaba logo! Não queria água ? Doutor (entrando) traga aqui! Veja, estou derramando água na ponta da bota...


VALDO – Assim, não...não me controlo...


LEDA - é um fraco! Não pode resistir, veja minha bota, é sensual, não é? Vamos lambe ! Isso assim...até ficar brilhando...Chega !


VALDO - Sou um fraco...me deixa ficar lambendo essa bota...tenho sede ainda...Ai ! Machucou meus lábios!


LEDA – Viu? Foi fácil! Não foi? Agora pode falar dos desordeiros ! Isto me dá tesão. O sexo é bom, descarrega as tensões. Você gosta de sexo, Valdo ?


VALDO – Tem outra coisa melhor que o sexo...


LEDA - Não tem nada melhor. Que coisa pode ser melhor? Vamos, diga logo!


VALDO - Quer experimentar ? Se a supervisora for bem forte...agüenta!


LEDA – Sou mais forte que você! O que você quer que eu experimente ?


VALDO – Vai ter que me olhar nos olhos !


DOUTOR – SUPERVISORA, NÃO OLHE ! Pare com isso! Ele está procurando ganhar tempo para que seus companheiros voltem...


VALDO - Pensava que era forte! Mas não tem coragem de me olhar...! Se me olhar eu posso contar tudo!


LEDA - Tenho coragem sim! Dúvida?


VALDO - Vem me olhar então! Não vem, não é? FALSA !...se mostra forte mas é como eu!


LEDA – Quieto! Quero ver se você agüenta o MEU olhar ! Se não, vai fazer o que eu mando !


VALDO – Se não agüentar conto o que você quiser!


LEDA - Vê! Estou olhando ! Ainda acha que sou fraca ? Vê? Não está acontecendo nada para mim...seu rosto é bonito ...mas você está tremendo...


VALDO – De emoção. Tanto tempo querendo ver seu rosto, seus olhos, seus lábios...O que foi? Por que parou de me olhar ?


LEDA - ...um cisco no olho...


VALDO – Cisco no olho ?


DOUTOR – Que estranho ? Um cisco no olho !


VALDO – Volte a olhar, Leda...olhar acalma a gente..


DOUTOR – Supervisora ...a lei! Olha o tempo passando...


LEDA - Está fazendo esquecer meu dever, seu idiota ? Rápido, os nomes! Fizemos um trato !


VALDO – Os nomes, só sei de alguns...


LEDA – O esconderijo !.....Não vai dizer? Então não há alternativa ! DOUTOR ! ( sai)


DOUTOR – A cirurgia ! Até que enfim! ( cantando em forma de rap )


a cirurgia ! a cirurgia é a sua agonia !


VALDO – ( cantando em forma de rap )


não ! a cirurgia não ! eu conto onde estão...mas a cirurgia não !


DOUTOR – ( cantando em forma de rap )


a cirurgia ! a cirurgia é a sua agonia !


mas é a minha alegria ! o meu prazer !


VALDO – ( cantando em forma de rap )


Senhora não se vá ! Volte aqui ! Por favor ! eu conto ! se quiser ver


meus amigos vá até o reator ! senhora


não se vá ! senhora não se vá ! eu conto ! se quiser


meus amigos lá no reator ! Doutor, chame a senhora


de volta. Diga a ela não se vá ! senhora não se vá ! eu conto !


meus amigos estão lá. vá até o reator ! senhora


volte ! senhora não se vá ! eu conto ! se quiser


meus amigos vá até o reator ! senhora


não se vá ! senhora não se vá ! eu conto ! se quiser


FIM